Por que odeio nordestino?
Contribuição da jornalista Sirlei Fernandes, de Curitiba-PR
De
nordestino tenho trauma acumulado desde a mais tenra infância. O
problema vem desde aquela época em que a gente ia feliz da vida prá
escola de guarda-pó branco e caderninho embaixo do braço para um dia
poder ler e escrever.
Odeio
nordestinos também por essa mania que eles tem em fazer música, dança,
poesia reverenciadas no mundo inteiro. Se Strauss ficou famoso com
suas valsas e Verdi com suas óperas, não menos valor tem os Doces
Bárbaros, Djavan, Alceu Valença, Carlinhos Brown, Zé e Elba Ramalho e
mais uma infinidade de gente talentosa. Tive a grata oportunidade de
assistir um dia Chico César fazer embolada no violão com a Nona Sinfonia
de Beethowen e o Luar do Sertão do Gonzaga e confesso: foi um
verdadeiro deleite musical.
Lembro
também do Baryshnikov. Ele tem méritos de sobra na dança. Mas, cá
entre nós, quem consegue harmonizar os passos frenéticos do frevo e do
maracatu não fica nem um pouco atrás do talentoso bailarino russo. E é
só o nordestino capaz de conseguir a façanha.
Minha
ira vai mais além. Além do povo carimbado de nordestino, ainda tem
aqueles quilômetros de praias de areia fofa rodeadas de coqueiros. Lá, o
azul do céu se confunde com as águas quase mornas, prontas pra receber
gente do mundo inteiro num doce mergulho no mar.

Naqueles áureos tempos me disseram que
um tal de Jorge Amado era um escritor baiano famoso e até hoje não
consegui entender o porquê dessa constatação. Será porque ele escreveu
dezenas de livros que retratam tão bem a história do povo nordestino do
sertão e da cidade? Será porque das obras dele renderam adaptações de
filmes de primeira linha, teatro e telas famosas? Será que odeio Jorge
Amado porque as obras dele foram publicadas em 52 países?
Este pequeno exemplo já é motivo
convincente para odiar o povo nordestino. Afinal de contas, porque a
contribuição deles à literatura é tão expressiva e valorizada e a nossa
não. Mas vou mais além.


Odeio o cearense Patativa do Assaré. Na
sua sabedoria popular, ele já imaginava que: “a baixa, o sertão e a
serra, Devia sê coisa nossa; Quem não trabalha na roça, Que diabo é que
quer com a terra? Quer mais motivos para odiar o Assaré?
O nordestino também tem a mania de se
sobressair na culinária. Odeio esse povo que capricha no acarajé, na
tapioca, vatapá e moqueca. A comida deles é tão avassaladora que até
político experimenta pra ver se o santo ajuda. Vide as ingerências da
buchada de bode na trajetória de alguns.

Esse é o nordeste. Mesmo odiado, seu povo tem no coração a grandeza do sorriso franco e a alma acolhedora.
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